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domingo, 3 de abril de 2011

Corpo de Bombeiros e suas mazelas

Major Buriti tem prisão decretada após declarações sobre o CB
Oficial falou sobre falta de estrutura da instituição durante incêndio no pavilhão do artesanato. Ouça entrevista do major Fragoso. Enquete!
  Gazetaweb- com Dulce Melo e Janaína Ribeiro
O major do Corpo de Bombeiros Militar Carlos Buriti foi preso na manhã deste domingo (03) por determinação da Secretaria de Estado da Defesa Social. A reclusão do oficial teria acontecido por conta das declarações dele a respeito das condições deficientes de trabalho na instituição, feitas durante o incêndio ao Pavilhão do Artesanato na Pajuçara no dia de ontem. A prisão está prevista para um período de três dias.

O secretário de Estado da Defesa Social, coronel Dário César Cavalcante, por meio do seu twitter, postou uma mensagem, neste domingo, defendendo a hieraquia militar: "As org militares são fundadas na hierarquia e disciplina através dos séculos. Qualquer tentativa de sua inobservância tem q ser reprimida!”, disse ele em seu microblog na internet.

Por conta dessa declaração pública do secretário já era esperada a decretação da prisão do oficial do Corpo de Bombeiros. Major Carlos Buriti está recolhido no Quartel do Comando Geral do CB, no bairro do Trapiche da Barra.

Depois de receber a voz da prisão, foi o próprio oficial quem resolveu 'noticiar', também no twitter, a sua prisão. Em uma das muitas mensagens postadas na internet, ele fala de decência. "Decência, personalidade, capacidade! Repressão é termo usado na ditadura! Cumpro determinação e me encontro preso junto com meu filho no QCG", disse ele.

Ontem, enquanto o Corpo de Bombeiros trabalhava para tentar apagar o incêndio que tomou conta do Pavilhão do Artesanato, no bairro da Pajuçara, acabou a água do caminhão tanque e foi necessário esperar vários minutos, enquanto as chamas se alastravam, até que outra viatura chegasse ao local. Após controlar o fogo, Buriti fez um desabafo e disse que a corporação precisa de investimentos, tem poucas viaturas e falta equipamento de proteção individual para os militares.

O que determinou o secretário

De acordo com a assessoria da Secretaria de Defesa Social, Dário César orientou o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Neitônio Freitas, a recolher o oficial em caráter de prisão disciplinar.

"Retornávamos de Belo Horizonte quando o secretário ficou a par de tudo. O Corpo de Bombeiros estava inerte, precisou o secretário voltar para ser tomada a medida cabível, quando o major já deveria ter sido preso pelo próprio comandante, seguindo a postura militar" - disse o coronel Maxwel dos Santos.

Ele falou que o major Buriti deverá sair do quartel nesta segunda-feira (04) e, em seguida, a corporação vai publicar, no boletim geral interno, qual punição será aplicada ao oficial. "Será publicado se ele responderá a sindicância", informou o coronel.

Manifestação da Associação dos Oficiais

Segundo o presidente da Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), major Fragoso, a determinação da prisão é arbitrária. “A prisão é super ilegal e abuso de autoridade. Partiu da secretaria de Defesa Social que não tem poder algum para mandar prender ninguém. No caso dos militares, depois do comandante, somente o governador pode fazer isso”- disse Fragoso.

Ouça entrevista do major Fragoso concedida a Rádio Gazeta AM


Ele também chama a atenção para uma norma presidencial destinada a agentes de segurança pública, onde, segundo o major, é garantida a liberdade de expressão.

Confira a Portaria Interministerial que fala da liberdade de expressão dos agentes de segurança pública, datada de 15 de dezembro de 2010 no site
http://www.notadez.com.br/content/noticias.asp?id=112789.

“O major Buriti não ofendeu ninguém, simplesmente foi a voz de muitos bombeiros que querem falar e não têm coragem. A situação está insustentável, trabalhamos numa estrutura sucateada e se ninguém colocar a boca no trombone, nunca mudará. Não existe um Corpo de Bombeiros com dois carros tanque, apenas. Se tiver um problema mais sério em Maceió a sociedade estará totalmente desprotegida. Ele explodiu porque ninguém aguenta mais. Estamos por um fio”- ressaltou o presidente da Assomal.

“Se a prisão do major não for revogada, a coisa tomará outra proporção e iremos fazer uma coletiva e divulgar todas as mazelas”, garantiu o oficial.

Estado já prendera Buriti em 2005 pelo mesmo motivo

E esta não foi a primeira vez que Carlos Buriti pelo governo do Estado. Em 2005, inconformado com a falta de investimentos na corporação, ele enviou um e-mail às redações dos jornais e TV’s fazendo uma espécie de ‘desabafo’.

No e-mail, ele fez a seguinte declaração:
 
“Jamais conseguirei explicar a sensação de ser acordado a qualquer hora, tempo ou local para cumprir o meu juramento e pedir a Deus que, caso venha a morrer, seja salvando uma vida. Jamais conseguirei entender por que tenho de passar pela frustração de não conseguir explicar a meus homens o motivo pelo qual, num investimento de 10 milhões de reais em viaturas, não virá nada para o Corpo de Bombeiros. Jamais conseguirei explicar para meu soldado o porquê de num incêndio ele precisar revezar o capacete e respirar fumaça ao invés de ter o seu próprio equipamento de segurança, e quando passar mal ser atendido nos corredores lotados de um hospital”, disse ele.

E continuou: “Jamais conseguirei explicar para os meus homens o motivo pelo qual, em uma noite de futebol, onde a milionária Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresenta seus milionários craques, o Estádio Rei Pelé passa por uma reforma de 500 mil reais, enquanto o sargento Everaldo começa a enfrentar o câncer de pele adquirido nos 29 anos salvando vidas nas praias e sabendo que com muito menos que 500 mil reais eu construo postos cobertos e protejo aqueles que se orgulham de enfrentar a natureza para salvar vidas”, diz outro trecho.

E o militar também falou das condições de trabalho nos grupamentos bombeiros do interior do Estado:
“O nosso pessoal também sofre muito no interior, geralmente eles não têm nem fardamento e têm de superar todas as dificuldades estruturais, como a falta de equipamento e de condições de trabalho”, completou.

Depois da divulgação do e-mail, Carlos Buriti, que à época, ainda estava na patente de capitão, ficou detido por cinco dias no quartel geral do Corpo de Bombeiros. Após esse prazo, ele ganhou liberdade pelo então decisão do juiz da Vara Militar James Magalhães, hoje desembargador do Tribunal de Justiça de Alagoas. Em seu despacho, o magistrado afirmou que a prisão do oficial era "ilegal" e "imoral".

Mesmo tendo ‘desrespeitado’ a hierarquia militar, Carlos Buriti à época conseguiu o apoio de vários colegas e instituições públicas se pronunciaram em favor dele.
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Um comentário:

  1. Qualquer semelhança com o RS, e mera coincidência... impressionante !! No RS acontece isso todos os dias.. de uma forma ou de outra os comandos tentam "amordaçar" a tropa... pois só assim não aparecerão as más administrações e as improbidades!!!

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