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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Graças a quem mesmo?

 Dinho reencontra bombeiro que o salvou após queda do palco

O cantor do Capital Inicial fraturou o crânio, as vértebras do pescoço em um acidente durante um show em Minas Gerais.

Neste domingo (31), faz exatamente um ano que Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, despencou do palco em Patos de Minas. Fraturou o crânio, as vértebras do pescoço e ficou inconsciente. Mas antes mesmo que o médico chegasse, um fã anônimo já o tinha reanimado. “Pelo impacto, a queda poderia ter provocado uma parada respiratória”, diz o médico João Batista Gonçalves.

Para o neurologista que o atendeu no hospital, os primeiros-socorros feitos pelo desconhecido salvaram a vida do cantor.

“A importância foi primordial. Na verdade, o atendimento naqueles primeiros cinco minutos, na primeira hora - que a gente chama "a hora de ouro" - é a parte mais importante no salvamento de qualquer vítima de um acidente”, explica o neurocirurgião Talles Caixeta.

O cabo Jenner Neves Britto, mergulhador do Grupamento de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros de Brasília foi quem acudiu Dinho Ouro Preto. Ele conta: “Já salvei da morte umas 15 ou 16 pessoas”.

No dia do acidente, ele e o major Marcos Gomes Correia estavam de folga, a caminho do Paraná, para participar de uma competição de mergulho. “E na estrada, a gente viu um outdoor do Capital Inicial, anunciando o show. E aí nós decidimos ir. Não pensamos duas vezes”, diz Britto.

O show estava no começo quando o cantor caiu.




“Me deparei com ele estendido no chão. Me identifiquei para o segurança que estava em cima dele. Ele estava caído e tinha um segurança protegendo o corpo dele. Aí eu falei: ‘Não, ele está mal’. Aí ele foi afastando o pessoal e eu comecei a fazer os procedimentos. Vi os sinais vitais dele, e ele estava com uma parada respiratória. Aí imediatamente eu fiz a insuflação, ou seja, o boca-a-boca. E ele fez um barulho até alto, como se fosse um ronco. Aí parou novamente de respirar. Aí eu fiz mais duas insuflações e ele voltou a respirar bastante ofegante, mas totalmente desorientado e inconsciente”, conta o cabo Jenner.

Depois que o cabo prestou atendimento no ginásio, os bombeiros foram ao hospital de Patos ver como Dinho estava e seguiram viagem. Acostumados a salvar vidas sem esperar nada em troca, eles nem se preocuparam em divulgar ou dar publicidade a esse episódio. Dinho Ouro Preto provavelmente jamais saberia a identidade de seus benfeitores se não fosse uma ideia que alguém teve lá no quartel dos Bombeiros em Brasília.

E se o Capital Inicial tocasse na festa de fim de ano da corporação? O major Marcos ligou para a produção da banda e fez o convite. “A proposta era Dinho estar com a gente na nossa celebração, a confraternização dos mergulhadores de resgate”, lembra ele.

Dinho soube então que foi Jenner quem o salvou e fez questão de conhecê-lo. O encontro foi marcado em Patos de Minas, no mesmo ginásio, exatamente um ano depois do acidente.

“Nunca ia passar pela minha cabeça que eu ia realizar um salvamento no Dinho, que eu sou fã dele”, comemora o cabo Jenner. “A gente se emociona sempre, não tem jeito. É muito bom”.

Dinho fretou um avião para voltar à cidade que evitou por um ano inteiro. O cantor conta: “A minha mulher é supersticiosa e procurou uma cartomante. Ela disse para eu nunca voltar. Mas eu vim agradecer. Eu precisava. Eu tenho que apertar a mão desse cara. Eu preciso falar com ele”.

No encontro com Dinho, o médico Talles Caixeta comemora: “Fiz questão de vir aqui e te dar um abraço. Sou seu fã desde muito tempo”.

No encontro com Jenner, um abraço emocionado. “Fizemos só a nossa parte. Esse é um dever nosso”, explica o bombeiro. Dinho rebate: “Eu sei, mas precisava te agradecer”.

Dinho mediu a altura do palco. Quase três metros do nível do chão de concreto. “Eu não sei como eu sobrevivi. Bom, sei! Na verdade, eu sei! Quantas vezes você acha que você vai agradecer alguém por ter salvado a tua vida?. É algo que a gente pensa que nunca vai fazer. Como eu posso te pagar por isso”, questiona o cantor.

“Sua presença aqui, em pé, conversando comigo, já é o meu presente. Não tem nenhuma dívida”, avisa Jenner.

Dinho contou sobre sua lenta recuperação ao cabo Jenner: “Primeiro eu não conseguia andar, cara. Eu não conseguia comer sozinho. Eu perdi oito quilos”.

Só conseguiu entrar no estúdio para gravar o disco novo quatro meses depois da queda. “E quando eu fui cantar, eu não conseguia cantar! Eu tive que gravar com uma fonoaudióloga. A música que abre o disco se chama ‘Ressurreição’. Eu devia dar o teu nome para música”, garante.

“Eu não sei se vocês se lembram, em filme de caubói, quando alguém salvava a vida do personagem, o cara virava o escravo. Eu tenho que trabalhar para você o resto da vida. Vou ficar a seu serviço para sempre”, brinca Dinho com o bombeiro.

Dinho deu CDs e autógrafos. Ganhou e vestiu a camiseta dos bombeiros. Garantiu que ainda vai fazer um show para a corporação em Brasília. E prometeu a si mesmo fazer do acidente apenas uma nota destoante que ficou para trás.

Um comentário:

  1. Caros Amigos!
    Eu sei muito bem qual é esse sentimento que o Dinho retrata na reportagem. É o sentimento da dívida, da gratidão, da interrogação,do ficar em silêncio, ou quem sabe rir ou chorar, enfim, é uma mistura de sentidos e sentimentos.
    Mas deixa eu explicar o que estou colocando aqui. Dia 28 de fevereiro é um dia especial pra mim. Eu nasci de novo. E fui abençoado por ter à mão uma equipe de verdadeiros anjos. Naquela noite, era o meu último serviço antes das férias, estava a uma semana da minha formatura na faculdade, seria um mês mais que programado, esperado! Porém, não era essa a vontade do destino, ou sei lá de quem. Ao subir naquela escada prolongável para fazer o meu trabalho, eu não sabia que não iria descer. Eu não me lembro como desci. Só lembro das vozes, da dor, e de acordar no pronto socorro. Foi uma queda estúpida. Fraturei a coluna. Perdi uma vértebra. Machuquei a medúla. Por pouco não fiquei paralítico. Por pouco!
    A coisa só não foi agravada porque no meu lado estavam as pessoas que a partir de então, tornaram-se muito mais que os meus colegas de trabalho, eles viraram meus heróis. Heróis que mesmo vendo um colega agonizando e gemendo da dor e do susto, não perderam a linha. Foram profissionais e colocaram todos os conhecimentos em prática. E os caras foram perfeitos! Hoje, estou sentado em frente ao computador, digitando esse texto, sentado na minha cadeira, mas poderia estar numa cadeira de rodas, ou quem sabe, nem vivo para relatar essa história.
    Foi graças a estes caras que o meu destino mudou. Claro que o tratamento no hospital, meus pós-operatório, e todas as pessoas que se dedicaram pra me ajudar e a me cuidar foram importantíssimas, mas eles só puderam fazer alguma coisa graças a estes caras, eles sim foram fundadmentais. A lesão comprimiu minha medúla, caso a imobilização fosse mal feita, já era. Ou eu viveria sequelado, ou nem viveria. A minha vida mudou. Quem sabe pra melhor? Quem sabe. Hoje, quando vejo esses caras,me pergunto: Será que eles sabem o quanto eu devo pra eles? Não sei! Mas do fundo do meu coração, eu sei o que eu devo pra eles! Seja qual for o caminho que a minha vida seguir, toda ela daqui para frente, é resultado da ação daqueles caras, naquele dia! Então amigos, eu devo muita coisa. É imensurável! Tenho toda uma vida saudável pela frente graças a eles e isso é muita coisa. Então é pra eles que dedico esse texto mais emocionado do que bem escrito. Para os meus heróis, amigos e companheiros de luta, Ivan, Ávila, Rocha, Simon, Roberto e Sandro. Muito obrigado caras! Muito obrigado pela nova oportunidade que vocês me deram, isso não tem preço!
    Rodrigo J Martins
    Bombeiro do CBPEL
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