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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

AQUILO QUE A MÍDIA NÃO MOSTRA SOBRE COTIPORÃ: CÉREBRO E SOLDADOS


   Quando o coronel médico, Riccardi Guimarães, presidente da Associação dos Oficiais da Brigada Militar (ASOF), afirmou que os oficiais são o cérebro da corporação, em carta aberta publicada no jornal Zero Hora há algum tempo, fiquei imaginando o que uma mente privilegiada como a dele faria no momento do confronto em Cotiporã. O que o cérebro faria naquela hora? Felizmente no confronto entre o fazer o bem e fazer o mal, venceu o fazer o bem. 

A Brigada Militar está de parabéns pelos seus valorosos soldados. Não há cérebro que defina a altivez e valentia desses honrados homens. Quando visualizamos a cena do confronto surge uma afirmação: para ser soldado da Polícia Militar não basta querer, tem que ter na alma a marca sagrada da missão do servir e proteger. 

Os soldados enfrentam o crime com naturalidade e destemor. No entanto, a maior dificuldade de combate para um soldado da polícia militar não aparece nos jornais: a violência administrativa. Quando presenciamos nos cursos de formação aquilo que parece humilhação física ou até psicológica, não se iludam, é humilhação física e psicológica desnecessária. 

Essa violência não serve para fortalecer o espírito, a moral e o corpo do recruta, pois ele, pelo simples fato de optar por ser policial militar já está fortalecido, podem acreditar. A violência administrativa se legitima pela omissão e medo de denunciá-la. Ela surge quando alguns, acreditando que são o cérebro, agem conforme seus pensamentos, sem sentimento algum. Eles pensam que suas violências praticadas administrativamente contra um soldado passam a não ser violências e sim um método de educação, fortalecimento ou treinamento (sei lá o nome que dão aos seus abusos para mascará-los frente à opinião pública). Eles não percebem que ser um soldado é ser muito mais que um cérebro. Ser soldado é ser cérebro, coração, pulmão, fígado, vísceras, corpo, alma, amor, ódio, vida, morte, coragem, medo, solidariedade, egoísmo... Enfim, é ser um pouco de tudo nesse mundo em que os cérebros não nos garantem nada. Aliás, os cérebros só pensam neles e desconhecem o restante. Tudo é deles, tudo pertence a eles. O meu soldado, o meu sargento, o meu batalhão, a minha viatura, o meu café, o meu cachorro, a minha privada, o meu tênis, o meu comando, etc. 

Frente ao confronto em Cotiporã, onde valorosos soldados enfrentaram a morte, convido os leitores a uma profunda reflexão sobre que tipo de vida está garantida a nossa sociedade quando abandonamos nossos policiais no cárcere psicológico da violência administrativa?


Autor: Ângelo Marcelo Curcio 



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