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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Sentimento de impotência?

Uma interessante pesquisa de Metin Basoglu, Journal of the American Medical Association, vol 294, dá umas indicações do porquê.

Entrevistando vítimas da guerra da Bósnia perceberam que o que mais revoltava todos era a falta de um certo tipo de vingança. Isto gerava raiva, impotência, desmoralização pessoal, perda de significado na vontade de viver, daí os terroristas suicidas.

Também surgia um pessimismo contra o futuro, uma descrença na humanidade em geral. 3 a 5% responderam que estariam dispostos a fazer vingança pelas próprias mãos.

Isto tocou um nervo sensível porque sempre acreditei que este pessimismo exagerado da nossa imprensa, esta descrença total no ser humano da nossa esquerda intelectual, e a impotência dos brasileiros diante dezenas de planos econômicos que tiraram nossas poupanças e brincaram com nossas vidas, deixaria sequelas, mas nunca tinha me atentado que violência seria uma delas.

Perdemos autoconfiança. Perdemos autoestima na medida em que viramos joguetes de planos econômicos mal concebidos e cujos autores nunca sequer foram punidos por imperícia.

Pelo contrário, todos viraram colunistas de importantes jornais e revistas.
Imaginem, diz Metin Basoglu, que sua casa foi invadida, sua filha foi humilhada, sequestrada, torturada, abusada ou assassinada. E, nada irá acontecer com os culpados.

Muitos outros atos nos deixam revoltados e impotentes, ensejando uma vontade de vingança. "Economic policies that contribute to poverty in the name of national interests", diz Metin, ou como nossa carga tributária de 42% que nos empobrece.
"Pesquisas mostram que a vingança ou um simulacro dela, atenua o sentido de impotência e raiva".

Advogados saberão melhor do que eu, o medo que sempre tiveram do fenômeno social "olho por olho".

Por isto, criamos toda uma doutrina jurídica que substituiu "vigança" por "justiça".
Com "justiça" eliminamos a vingança da família prejudicada ou ofendida, que muitas vezes gerava o olho por olho que termina em lutas étnicas.

Quem faz "justiça" é uma terceira pessoa, com regras claras, que se forem "justas", impediriam o olho por olho.

Acontece, que um Judiciário que demora 10 anos para decidir gera os mesmos sentimentos que Metin aponta no seu estudo.

Quando planos econômicos roubam 30% de nossa poupança via o truque de eliminação do "carry over" inflacionário, e ninguém sequer comenta o roubo, gera os mesmos sentimentos de humilhação.

Quando temos na justiça mais de um milhão de processos pedindo ressarcimento das manipulações de indices de correção monetária, Plano Bresser, Fundo de Emergência nunca devolvido, há mais de 20 anos na justiça, cria um sentimento de vingança no ar.

Nenhum dos culpados foi processado. Pelo contrário, são glorificados.

Os próprios atos de terrorismo são reações naturais a este sentimento de impotência, mas curiosamente, quando a televisão noticia essas atrocidades, antes que os culpados sejam sequer identificados muitos menos condenados, cria no telespectador um imediato sentimento de injustiça e desejo de vingança.

STEPHEN KANITZ é consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
 

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